Tomado pelo abraço do dragão, ele se levanta ainda sonolento e cambaleante. Seu rosto marcado com vergões de um lençol barato. Coloca as mãos no bolso e descobre umas moedas. O caminho até a taverna era curto, duas quadras. Seus passos leves contavam as notas de seu próximo conto. Delírio. Edgar entra na antiga taverna no centro de Baltimore, depois se acomoda frente ao balcão e pede um conhaque. Suas moedas deram para meia dose. Num trago ele acabou com a pequena quantia do conhaque barato que acabara de comprar.
Edgar Allan Poe |
Aos becos e ruas estreitas da cidade portuaria, Allan Poe, como era mais conhecido, estava atrasado para sua aula de latim. Colocou a mão no bolso esquerdo do seu paletó preto e surrado e encontrou um pouco do ópio que comprou na noite anterior. Seus contos nunca seriam notados, pensou o pobre garoto de Boston, Estados Unidos.
Edgar Allan Poe nasceu em Boston no dia 19 de janeiro de 1809, filho de atores fracassados, sendo o pai David Poe Jr., que o abandonou um ano depois. Sua mãe, Elizabeth Arnold Hopkins Poe, morreu após o nascimento de Rosalie, a irmã mais nova de Poe, quando o pequeno Edgar tinha apenas dois anos. Depois do ocorrido, um rico casal adotou a criança, Francis Allan e o seu marido John Allan, um mercador de tabaco bem sucedido de Richmond .
Gravura representando o conto: O gato preto |
Com os Allan, o pequeno garoto teve a oportunidade de estudar na Inglaterra, freqüentou a escola de Misses Duborg em Londres, e a Manor School em Stoke Newington, Poe voltou para Richmond em 1820, entrou na Universidade da Virginia seis anos mais tarde. Seus estudos duraram até o ano de 1827, quando foi expulso por ser boêmio e subversivo.
Sua roupa preta estava manchada com cinzas de cigarro. Seus pensamentos transformavam quase tudo em extraordinário. Tragos. Rasgos. Um gato preto passa arrepiado, esfregando seu frágil corpo no sapato opaco do poeta. Dois corvos saem voando e emitindo seus devidos sons. Uma nuvem cinza sobrevoa em direção à cidade. Angustiado, Poe segue em passos apressados agora. Sua fome ronca em seu estomago judiado pelos dois dias de apostas no jogo, conhaque e opium. O rosto sujo e oleoso precisava urgentemente de um bom banho quente. Os pingos da chuva densa começam a cair em suas costas doloridas. Em alguns instantes não vai mais estar na chuva, sua casa aparece após a esquina de uma mansão abandonada. Poe parava todo dia em frente a antiga mansão, mas nesse dia com a chuva, a pressa não deixou que ele observasse na janela do sótão do antigo casarão. Alguma sombra apareceu junto com o brilho de um relâmpago. Poe precisava descansar.
A banheira já estava cheia de água quando Poe acendeu o seu cachimbo com ópio. Suas pupilas dilataram-se lentamente e seu cérebro começou a sentir o efeito da papoula. Os músculos relaxaram quando afundou sua cabeça na água morna. Os delírios voltaram atormentar sua consciência. Insetos asquerosos subiam pelo azulejo do banheiro. Mariposas grudentas pairavam em redor a sua cabeça cheia de ópio. Ao sair da água, sentiu o frio que cortava seus delírios. A toalha branca enxugou os cabelos pretos do escritor. Alguns insetos insistiam escalar suas pernas brancas e com espumas de sabão. Algo poderia estar acontecendo com a sua realidade. Virginia Eliza Clemm Poe chegou no pequeno quarto do casal e viu o marido se debatendo e falando coisas absurdas quando saio vestindo o paletó limpo e com um semblante desesperado.
Lápide do tumulo do escritor |
Edgar A. Poe, foi encontrado com roupas que não eram as suas no dia três de outubro de 1849, aos 40 anos, jogado em uma das ruas de Baltimore, tendo alucinações provindas de delirium tremens, uma psicose causada pela abstinência ou suspensão do uso de drogas ou medicamentos freqüentemente associada ao alcoolismo, mas que também pode se apresentar com o uso prolongado ou abusivo de benzodiazepínicos ou barbitúricos. O escritor foi levado ao Washington College Hospital, mas morreu apenas quatro dias depois.
Nunca foram apuradas as causas precisas da morte de Poe, sendo bastante comum, apesar de incomprovada, a idéia de a causa do seu estado ter sido embriaguez. Por outro lado, muitas outras teorias têm sido propostas ao longo dos anos, de entre as quais: diabetes, sífilis, raiva, e doenças cerebrais raras.
A velha mansão abandonada próxima da sua casa, continua existindo até os dias de hoje. Algumas pessoas dizem passar por lá e ouvir barulhos estranhos no calar da noite. Várias pessoas disseram já ter visto em dias de chuva sombras nas janelas após os clarões das rajadas de relâmpago. Outros disseram ver duas sombras. Contos de terror, de morte e de medo. Edgar continua assombrando os pensamentos dos leitores que por ventura descobrem sua obra. Um gênio que como muitos morreu pobre e louco. Desventuras. Loucuras. Situações mundanas.
Gustavo Ribeiro
Campinas, SP.
Nenhum comentário:
Postar um comentário