Com o frio o pobre senhor só tinha uma caixa de papelão para se cobrir. Suas costas molhadas com a urina que descia beirando o muro, de outro senhor que dormia mais para cima. Com suas unhas pretas de sujeira coçava a barba metade branca outra não. Seus olhos cansados olhavam a briga dos cachorros em plena madrugada. Eram apenas duas da manhã.
O estômago já mexido soltou tudo para fora em um único e barulhento vômito. Tinha tomado todas as garrafas de vinho que pôde. Os olhos lacrimejantes e vermelhos sabiam que a noite ainda ficaria cada vez mais gelada e barulhenta. Os trovões anunciavam uma chuva tempestuosa.
Na noite anterior uma briga por um pedaço de pão, fez com que seu braço sangrasse. Estava com a camiseta cheia de sangue escuro da outra noite. Estava morando ali por que sua esposa o traiu com seus dois melhores amigos, na mesma tarde, enquanto ele trabalhava em sua oficina para consertos de ventiladores. Quando chegou em casa e viu a cena, foi até o quarto dos fundos e pegou seu revolver calibre 38. Matou a esposa e os dois amigos. Mulher safada. Fugiu do interior e foi morar na capital em becos escuros. Vive na marginalidade do mundo cinza paulistano.
Seus pais o deixaram em um orfanato de freiras, sempre foi muito bom com todos. Caridoso e prestativo, toda semana fazia doações para a instituição onde foi criado. Ganhou o revolver de um antigo jardineiro do orfanato. Agora o chuva começou e eram apenas duas e dez da manhã. Sua noite não seria nada agradável.
Gustavo Ribeiro
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