quarta-feira, 25 de maio de 2011

A noiva a corda e o banco

Não ao batuque, quero saber de distorção. Meus sentidos se misturam. Dor de cabeça, vinagre, cebola e sal. Todos os mamelucos na porta da igreja. E a noiva pendurada com uma corda no pescoço. Pobre garota. Descobriu ter sido violentada por seu próprio pai enquanto dormia bêbada após sua despedida de solteira.
Na escola, ridicularizava as crianças mais pobres, as bolsistas. Saia gritando e espalhando o terror no meio das adolescentes cheias de maquiagem. Na praça, chutava o monte de folhas das senhoras que por ali limpavam todo santo dia.
Do pai se orgulhava. Ganhou um carro ao completar dezessete anos. Cantava pneu em frente aos bares cheios de pedreiros e garis da pequena cidade. Revirava os baús da sem-vergonhice. Roubavam da mãe algumas jóias que seriam trocadas por doses de heroína. Saia correndo com sua amiga e vizinha.
Foi na Europa onde conheceu seu futuro marido. Negro, alto, inglês. Foi na contramão da via. Seu pai não gostava muito disso. Sabia que tinha que castigá-la. Foi muita audácia de sua parte, ele gritava enquanto  corria com seu veículo importado de 320 cavalos.
Sua filha merecia uma lição. Bebeu muito aquele dia. Enxugou duas garrafas de uísque com seu melhor amigo em qualquer bar da região sul de São Paulo. Ao sair da garagem raspou a porta. Cuspiu e gritou com o cobrador.
Chegou em sua casa bêbado, encontrou alguém nu deitado no sofá da sala. Ao desabotoar a camisa ouviu um gemido. Sua filha acabou de vomitar dois pedaços de kiwi. Tirou o paletó e subiu sobre a filha embriagada e a estuprou. Foi dormir mas não vestiu os sapatos.
A empregada contou para a noiva tudo que viu na noite anterior, querendo tirar algum trocado da moça que nem sabia de nada. a sensação de ancia de vômito encheu sua boca. Vomitou. Uma corda e um banco foram suficientes. Ela iria se matar.


Gustavo Ribeiro

Um comentário:

  1. Uma vida repleta de riquezas materiais e vazia de riquezas elementares. Um desfecho trágico. Adorei.

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