quinta-feira, 19 de maio de 2011

Rascunhos de um sonho

 Sua jornada começou na varanda da casa de Dale Crover, onde dormia dentro de uma caixa de geladeira.  Depois, Kurt Cobain foi morar na van de um amigo em Aberdeen, na época que o Nirvana ainda não tinha este nome. O nome do amigo dele era Buzz Osborne, vocalista e guitarrista do Melvins.  Quando fez a música “Something in the Way”, Kurt anunciava para o mundo que tinha morado em baixo de uma ponte das barrentas margens do  rio Wishkah. Ficava vagando da  "MelvAN", (como era chamada a van dos Melvins) algumas vezes ia ao  Hospital Comunitário de Grays Harbor, que há 16 anos tinha nascido. Fingia que estava esperando alguém e dormia ali mesmo na sala de espera.
Quando conseguiu fazer um teste com os Melvins, Kurt levou sua guitarra, mas se apavorou na jam session, não dando motivos para ele se tornar um membro da banda. O garoto queria mais. Montou uma demo, gravada na casa de sua tia Mari, com um amigo na bateria. Essa fita caiu nas mãos de Krist Novoselic, (ele trabalhava em uma lanchonete na época) que ao ouvir a música “Spank Thru”, decidiu que queria formar uma banda com aquele maluco.
Fecal Matter, foi o primeiro nome que o Nirvana teve.
Cobain andava de capa de chuva quando estava um calor de 30 graus. Ficava o dia inteiro com sua guitarra no sótão da casa de sua mãe Wendy,  antes de sair para morar por vários lugares. Ficava na casa do pai Donald Cobain, da mãe, dos tios. Certa vez dividiu a casa com um integrante do Melvins, o baixista Matt Lukin. Ele tinha um rato de estimação, se chamava Kitty, ganhou da ex-namorada Tracy Marander.
Um antigo baterista da banda, chegou com ressaca em um ensaio do protótipo do Nirvana, ele o expulsou. Era muito sério em relação a isso. Tinha gasto parte de sua vida estudando e compondo, não abria espaços para bagunça.
Quando tinha quatorze anos de idade, sozinho começou a fazer curtas, com uma câmera super-8 que emprestou do seu pai. No filme, alienígenas (interpretados com figuras que Kurt modelou com argila) aterrisavam na casa dos Cobain. Tinha quatorze anos, quando ganhou a primeira guitarra de um tio doidão, que tinha uma banda na década de setenta. Nessa mesma época, estava indo para escola, com um amigo, quando encontraram o irmão desse amigo enforcado em uma árvore. Na escola todos estavam preocupados com o sumiço  das duas crianças. Encontraram os dois sentados na frente do corpo que balançava com o vento gelado de Aberdeen.

Costumava pedir para um cara que comprasse bebidas para ele quando ainda não tinha a maioridade. Esse cara tinha uns duzentos quilos. Kurt ia com um carrinho de compras buscá-lo em casa, levava-o até o supermercado (dentro do carrinho) e depois o trazia de volta. Sua banda preferida era o “Melvins”, e foi o primeiro concerto punk que ele assistiu no verão de 1983, em Montesano no estacionamento atrás do supermercado que o guitarrista e empacotador Roger "Buzz" Osborne trabalhava. 
Kurt espalhava em suas diversas entrevistas dadas ao longo de sua carreira meteórica, que conseguiu sua primeira guitarra, após pescar os rifles de seu padrasto. Wendy, após uma briga com o namorado, jogou no rio Wishkah. Na verdade, ele realmente as pescou, com a ajuda de dois amigos e comprou um amplificador Fender Deluxe com o dinheiro das armas. Kurt jamais deixava que alguém introduzisse a verdade para atrapalhar uma boa história. 
Kurt Donald Cobain, cheio de maluquices, mas foi um gênio, talvez incompreendido, talvez mal observado. Nos resta agora escutar o que deixou gravado, e respeitar o fato que ele e sua banda mostraram um novo caminho para as bandas independentes do mundo todo. Desde sua infância conturbada, à sua adolescência cheia de tortuosos momentos, até sua morte inesperada, o último messias do rockandroll.
Meus olhos ardem e consigo respirar melhor. O sonho acabou. Tomo um copo com leite e saio colocando a blusa nos braços. Meu ônibus está para chegar.



fonte: "Heavier than heaven"   ("Mais pesado que o céu") 
Charles R. Cross
editora Globo
    
Gustavo Ribeiro


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