Em dias que não se tem nada para escrever, dias inexistentes, falta de inspiração, baboseira. Mas o que eu escreverei agora? O que me pega pelo laço no momento em que tenho uma vontade de acender um cigarro?
Barulhos entram em meus ouvidos sem serem anunciados. Ruídos que não quero ouvir. Uma invasão do meu sentido auditivo. Um estupro! Andando pelas ruas os carros passam com seus alto-falantes estourados, me criando momentos de insatisfação. Buzinas em sinais, pneus que derrapam, caminhões e motos tão barulhentos. Civilização maldita.
No meio do quarteirão, um garoto passou correndo com o joelho sangrando. Não gritava nem reclamava de nada. Nas minhas pegadas que iam sendo deixadas, fazia o contratempo de mais algumas outras canções da minha cabeça. Desafinadas.
O tempo demora em passar e não saberia escrever mais nada depois disto. No prefácio de “Don Quijote de la Mancha”, Miguel de Cervantes (1547-1616), escreveu que amassava dezenas de folhas antes de conseguir alguma coisa que prestasse. Não sou nenhum Cervantes! Hoje deleto centenas de vezes textos que não me servirão em nada. Malditos escritores.
Olho em volta e nada vejo de interessante. No primeiro ano de faculdade a professora nos pediu para sair e fazer uma matéria com alguma situação ou com alguém. Lembro que sai e não fiz nada. Fiquei em um buteco tomando uma cerveja ao invés de sair e procurar uma matéria. Na minha cabeça ninguém era importante o suficiente para eu fazer uma entrevista.
Naquele mesmo dia, depois da aula encontrei um morador de rua na praça, tive uma conversa de uns trinta minutos com ele. Falava com o português correto. Tinha sido preso. Me renderia no mínimo duas páginas. Com o tempo fui descobrindo que todos rendem centenas de histórias boas. Cada um. Do mendigo ao arcebispo. Prefiro os mendigos. São mais honestos.
Continuo andando por aí, observando quase tudo. Mentalizando crônicas e sustentando as notas distorcidas das lambretas que passam acelerando ao meu lado. Do resto, vou dar uma descida na gruta, respirar o cheiro do mato, ouvir os pássaros da tarde e observar a poluição no rio Tietê. Junto com Dom Quixote o cavaleiro andante e seu cavalo Rocinante.
Gustavo Ribeiro
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