quarta-feira, 18 de maio de 2011

ZZZZZZZZZZZZZ !

Como fugir da conformidade polida e cínica das pessoas que nos cercam diariamente? Entre um trago ou outro fico apenas observando o andar triste das madres que procuram um bom lugar na sombra para descansar. Meus ouvidos começam a sentir um chiado. Meus discos não emitem tanto. Barulhos de manhã.
O meu despertador está com uma música de uma banda que eu curto, Sublime. Hoje estava no meio de um sonho gostoso quando começou a tocar aquela canção. Tinha que me levantar, meu dia ia se tornar comum de novo.
Olhei para minhas coisas, duas fotos um quadro e alguns discos, queria tanto estar ali só. Me sentar para ouvir música, um prazer magnífico. Sentado ou em pé. O prazer de você pegar o disco, olhar em cada espaço da capa e contracapa. Sentir o cheiro do papelão, do plástico, do vinil, do velho. Sentido. O prazer de dar sentido as pequenas coisas.
No mundo atual, não se tem o prazer físico de ouvir música, se é que isso exista. Em um pen-drive, conseguimos guardar enormes coleções, discografias completas das bandas prediletas, mas o prazer da busca se perde. Nada como achar em um sebo um disco que você ouvia quando estava engatinhando na sala atrás de diversão. Led Zeppelin, bruxos disfarçados de músicos.  
O sentido da admiração, a fuga onírica da realidade. Só se encontra liberdade na arte, na criação, em sentar para ouvir música, ou não existe liberdade. Presos em uma rede de situações chatas estamos todos. Fico sem pensar por dois minutos e tudo que eu via parece explodir. Abra os olhos. Sinta a natureza. Olhem o pôr do sol antes que ele vá embora.


Gustavo Ribeiro

2 comentários:

  1. escrevi um comentário que tinha uma extensão bíblica e ao publicá-lo deu falha :(

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  2. reiterando:
    Não posso crer! Vc discorreu sobre dois temas que têm sido muito recorrentes em meus diálogos das últimas semanas. O primeiro deles é o "dar sentido à vida" e valorizar as "pequenas" coisas. Ter a capacidade de extrair beleza da simplicidade, de um mero gesto, um singelo olhar. Ter olhos para enxergar além da superfície e, sobretudo, dar sentido após sentido para a existência para que não corramos o risco de cair no abismo niilista. Por isso a arte se revela tão importante. A "felicidade" é feita de pequenas alegrias, parafraseando o sábio Rubem Alves.
    A segunda pauta trata da excessiva acessibilidade vs o prazer da busca - no que se refere ao âmbito musical, no caso -, um paradoxo que nos propicia um oceano de possibilidades "às mãos" contra o encanto da descoberta e do desvelamento. Eu opto pela magia, pela impulso, pela força motriz que é a procura por algo que acenda as centelhas de vida que abrigamos. No fim o que buscamos é uma experiência de estarmos vivos. Os dois temas dialogam, ou melhor, são quase indissociáveis.
    Belíssimo post, Gu! E gratíssima - e lisonjeada - por ter tido a vontade de compartilhá-lo. Continue seguindo a "linha" da peculiaridade e das epifanias. Precisamos mesmo de seres que se destaquem e deem à vida o valor e a beleza que a ela merecem ser atribuídos. O seguirei cotidianamente.
    Beijos e autofagias.

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