No começo da madrugada me sinto perseguido por um lobo faminto. Coloco o capuz e ajeito as calças. O frio das noites é uma benção para meu espírito criador. Penso mais no frio. Penso em arte. Sigo cuspindo as ideais vagas, pego meu caderninho e ponho na mochila. Uma caneta preta, não falta.
No cheiro da tinta me criei, ficava observando meu pai pintar um mesmo quadro inúmeras vezes. Pintava e jogava tinta em cima. Meus ouvidos acostumados com Rolling Stones deixavam meus olhos só prestarem atenção nos detalhes da pintura. Tinta e música em volume agradável. Comecei ai a escutar também Jazz e Blues. Robert Johnson debruçava na mesa branca de desenho do meu pai. Johnson vendeu sua alma ao diabo na encruzilhada das rodovias 61 e 49 em Clarksdale, Mississippi. Estava com seu violão e uma garrafa de whisky, quando ouviu um bend escandaloso de uma gaita cromada, era o diabo.
Eu ficava ouvindo suas treze canções várias vezes ao dia. No espaço reservado para a pintura, me sentava na frente de uma tela em branco e por ali ficava espiando ou vislumbrando como ela poderia ficar cheia de tinta. Tinta látex. Eu e meu banco de madeira. Cheio de tinta no tênis.
Gustavo Ribeiro
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