sexta-feira, 13 de maio de 2011

JOELHO ESFOLADO

O silêncio chega perto da porta. Os pássaros começam a voar sem pretensão. Fogem de alguma coisa. O vento encosta suavemente a janela de madeira do antigo casarão. A escuridão começa a tomar conta do quarto que outrora servia de aposento para um bondoso rei. Seu nome era Limbs.
Nas manhãs de sábado, costumava descer de seu aposento real para ir até o jardim de verão do castelo. Ali ele pintava e escrevia sempre com um copo de absinto na mão. Seu mundo colorido tomava conta das manifestações artísticas. Cavalos alados. Dragões com seis cabeças. Rituais profanos de culto à natureza. Limbs era um mago.
Sua flor de lótus brotava aos domingos e seu codex permanecia intocado. O senhor Magpie, trazia no mesmo horário suas bolachas de leite e uma xícara de chá. Confinados em uma caixa de madeira, seu pequeno mundo o deixava tranqüilo.
Disco voador. Amarelo. Isopor. Caixa de tintas. Esquinas. Desorganizador. Lucidez.  Alquimia. Robotiza dor.  Na parede pintada de azul, desenhos em branco. Na parede pintada de branco, desenhos em vermelho. Seu mundo torto começa a sacudir.
O garoto corria desesperadamente com sua caixa dentro da mochila. Só parava quando os carros freavam para não o acertar. Sua escola ficava mais quatro quarteirões para esquerda. Ele iria se atrasar. Suas pernas estavam cansadas. Respiração ofegante. O cadarço desamarra. Olhando para o céu respira fundo e levanta. Um fio de sangue começa a descer pelo joelho esquerdo  esfolado.
Ao chegar à frente da escola, subiu com pressa os últimos degraus. O corredor cheiroso e brilhante fazia seus sapatos deslizarem com suavidade . Ao encontrar a sala número cinco, entra sem ser anunciado e senta em uma cadeira vazia no começa da fila. O sinal toca. Ele abre o caderno e assiste a professora de costas escrever no quadro negro. Ele deseja ser médico.
Gustavo Ribeiro

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